Casa de Farinha Quilombola é restaurada e preserva tradição centenária em São Mateus

Casa de Farinha Quilombola é restaurada e preserva tradição centenária em São Mateus

Em meio ao cotidiano urbano do bairro Santo Antônio, em São Mateus, no Norte do Espírito Santo, resiste o Quitungo — antiga casa de farinha construída com madeira, barro e palha, que por décadas serviu de espaço para o processamento da mandioca por comunidades quilombolas da região. Hoje, o espaço é mantido como ponto turístico e centro de memória viva da cultura quilombola capixaba.

Em abril, o Quitungo passou por uma restauração completa, com investimento de R$ 140 mil, financiado pela empresa Suzano. As obras incluíram reparos no telhado, reforço de estruturas comprometidas pelo tempo e substituição do cercado que protege o imóvel. Tudo foi feito com o cuidado de manter as características originais da construção, que tem mais de 50 anos.

“A estrutura foi trazida de uma fazenda do interior do município para aproximar os produtos quilombolas da cidade. Na época, o projeto foi viabilizado pela então Aracruz Celulose, hoje Suzano”, conta Luiz Laudêncio, morador quilombola e um dos responsáveis pelo espaço.

Atualmente, o Quitungo é gerido por nove famílias da Associação Quilombola Bom Pastor. Elas recebem visitantes e comercializam, no próprio local, produtos tradicionais derivados da mandioca, como beiju na palha de banana, beiju de coco, beiju de amendoim e a farinha artesanal, um dos símbolos da culinária quilombola.

O local funciona todas as sextas e sábados, das 6h às 18h, e aos domingos, das 6h às 13h. Tornou-se um ponto de referência para quem busca produtos frescos e autênticos, produzidos por famílias que mantêm vivas as técnicas e saberes passados de geração em geração.

Além da venda de alimentos, o espaço oferece uma verdadeira imersão histórica: o visitante pode conhecer como funcionavam os antigos engenhos de farinha, com destaque para a Bolandeira — roda de madeira movida por bois ou cavalos, usada para ralar a mandioca —, a prensa de madeira escavada, o forno de barro, o cocho e outros utensílios típicos.

Para Narcisio Luiz Loss, consultor de Relacionamento Social da Suzano, apoiar iniciativas como essa é parte do compromisso da empresa com as comunidades tradicionais.
“Temos projetos voltados à valorização cultural e geração de renda nas regiões onde atuamos, sempre respeitando os saberes dos povos tradicionais. No Norte do Espírito Santo, o diálogo com as comunidades quilombolas tem proporcionado parcerias importantes, que queremos manter e fortalecer”, afirma.


Produção reconhecida com selo de Indicação Geográfica

O trabalho das comunidades quilombolas da região Sapê do Norte — que abrange partes de São Mateus e Conceição da Barra — ganhou destaque nacional em 2024 com o reconhecimento de Indicação Geográfica (IG) para os beijus produzidos localmente. O selo de Indicação de Procedência, concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), reforça a autenticidade e o valor cultural do produto.

A tradição de fazer beiju, a partir da goma e da massa da mandioca, remonta ao século XIX, ainda no período escravista, quando comunidades quilombolas se estabeleceram no Norte capixaba. O reconhecimento da IG valoriza essa produção tradicional e contribui para sua preservação.


Visite

Casa de Farinha Quilombola – Quitungo
📍 Endereço: Avenida Dom José Dalvit, bairro Santo Antônio – São Mateus/ES
🕒 Funcionamento:
– Sextas e sábados: 6h às 18h
– Domingos: 6h às 13h